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quinta-feira, novembro 3

A Relação Budismo - Judaísmo


O princípio budista ensinado por Buda estabelece que, onde quer que o Nobre Caminho Óctuplo seja encontrado, há seu Dharma. Isso significa que qualquer religião, até o ponto em que ensine aqueles princípios, estará de acordo com o Budismo. Do lado judaico nós temos a leitura rabínica da Torá, que ensina que há sete mitzvoth básicos dados a Noé, que são obrigações para todas as pessoas e, até o ponto em que um professor adere a estes princípios, o sistema é “correto” e não idólatra, e é compatível com o Judaísmo.

A relação entre judeus e budistas é antiga. Existem indícios intrigantes em relatos de viagem durante o período medieval. Um viajante muçulmano do século IX chamado Al Beruni, escreveu acerca de uma grande presença judaica em Kashmir (Caxemira). Marco Pólo contou sobre os conselheiros judeus do imperador chinês. Sir Thomas Row, embaixador britânico na corte Mughal, descreveu influências judaicas naquela corte. Conta ainda um viajante judeu do século XII,  Benjamin de Tudelah, sobre uma grande comunidade em Kandy, no Sri Lanka – mas este relato está quase certamente errado, segundo o Dr. Nathan Katz*.

Na Europa, os judeus europeus estavam interessados no Budismo mais como europeus do que como judeus. Isto é, o Budismo era um interesse cultural na Europa secularizada, e a maioria dos judeus europeus era secularizada. Existe uma tradução yiddish do Dhammapada, por exemplo, e Martin Buber e outros pensadores seculares judeus discutiram longamente o pensamento budista. Foi então, um encontro basicamente textual. Comunidades judaicas antigas estavam estabelecidas na Índia, e outras se formaram no periodo colonial em Burma. O Japão e a China também abrigavam comunidades judaicas. Mas não se pode afirmar que existiam interesses inter-religiosos da parte dessas comunidades. Há no entanto um caso muito particular de interesse e composição inter-religiosa. Foi um caso de um cabalista yemenita que viveu em Darjeeling, nos Himalaias. O Dr Nathan Katz diz: "Ele escreveu um texto tentador e muito difícil em que esboçou paralelos entre a kabbalah e o tantra tibetano, especialmente práticas mágicas. Eu estive trabalhando nesse material por algum tempo, mas francamente está além de minhas habilidades."

Foi durante os anos negros do Holocausto que ocorreu o mais significativo encontro entre judeus e budistas. Em fuga das atrocidades nazistas, um número de judeus alemães conseguiu chegar à Índia, alguns em busca de refúgio e outros de Iluminação. Passaram então a ter um contato intenso com o budismo e alguns se tornaram monges e monjas budistas muito influentes. Eles influenciaram o Budismo, especialmente na articulação de um Budismo socialmente ativista e no movimento internacional das mulheres budistas. Aos seguidores desse fenômeno deu-se o nome de “JuBu” (um judeu que pratica o Budismo) e alguns dos mais significativos mestres budistas do século XX eram "JuBus". Entre eles estão Nyanaponika Mahathera, Bhikku Bodhi, Ayya Khema, Lama Anagarika Govinda, Philip Kaplau Roshi, Bernie Glassman Sensai, Jack Kornfeld, Joseph Goldstein, Sylvia Boorstein, Lama Surya Das, Harvey Aronson, Daniel Goleman, Thubten Chodrn, etc. Entre os acadêmicos ocidentais do Budismo existe um número expressivo de judeus. Essa grande quantidade de professores e acadêmicos judeus de Dharma conduziu ao primeiro encontro semi-oficial entre budistas e judeus, o diálogo judaico-tibetano de 1990 recepcionado pelo Dalai Lama e gravado em o “O Judeu no Lótus”, de Rodger Kamenetz.

* Dr. Nathan Katz é professor em Ciência da Religião na Universidade Internacional de Florida, Miami, EUA.
Post escrito baseado na entrevista de Frank Usarski com Nathan Katz, versão prtuguesa de 10/05/2007.


Foto: Flor de Lótus - Windows Wallpaper

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