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domingo, maio 20

Adolpho Bloch - 7


Ele tinha a certeza de que JK era um grande homem e que seu lugar na história estava garantido. Adolpho editou suas memórias, apesar das muitas dificuldades que o governo de então colocou no projeto por ambos criado. Foram publicados os três volumes de suas memórias (A Experiência da Humildade, A Escalada Política e 50 anos em 5, além de um resumo dos três com o título Por Que Construí Brasília.). Posteriormente, Carlos Heitor Cony completou a série com JK - Memorial do Exílio. O governo liberaria a venda dos livros bem mais tarde. Assim, JK não viu a publicação dos dois últimos livros de suas memórias.

Ele freqüentava diariamente a redação de Manchete. Um dos editores, sabendo que ele estava a par de tudo o que se publicava, pediu-lhe que escrevesse resenhas de livros, garantindo-lhe um cachê de 100 cruzeiros a lauda. Ele aceitou o encargo, mas recusou o pagamento. O editor garantiu-lhe que, se não recebesse, a colaboração dele seria suspensa. E, assim, os últimos cachês que JK recebeu foram os de colaborador de Manchete. Assinou críticas de livros sobre economia, sobre ensaios e romances. Era com alegria que ele próprio juntava os recortes de suas colaborações.

Certa vez, Adolpho Bloch procurara o Dr. Israel Pinheiro, presidente da Novacap, dizendo-lhe que faria toda a propaganda de Brasília sem qualquer interesse comercial. À mesma época, a revista O Cruzeiro só publicava matérias pagas sobre a construção da nova capital. Dizia Bloch que desejava pagar ao governo o privilégio de divulgar a epopéia que estava se realizando no Brasil Central.

Em 1958, acompanhado de seu Dirceu do Nascimento, Adolpho Bloch foi procurar o Coronel Affonso Heliodoro, que lhe fez a entrega de numerosas fotografias da construção da cidade. Com elas, foi editada um número especial de Manchete, que esgotou 200 mil exemplares em apenas 24 horas.

A televisão ainda engatinhava e Bloch pensava: "Quantas pessoas estão sabendo o que se passa no coração do Brasil? 50, 100, 150 mil? E o restante dos 75 milhões de habitantes? (a população total do Brasil da época). Foi assim que Brasília e manchete cresceram juntas. Aquela meta, que o próprio JK denominava meta-síntese, fez a indústria de São Paulo funcionar a todo vapor. Os imensos canteiros de obras que se abriam em todos os estados ofereciam mercado de trabalho a todos e todos prosperaram.

Durante a construção da capital, o presidente saía do Catete depois do expediente diário. Às 8 da noite, tomava um DC-3 no Aeroporto Santos Dumont e levava quatro horas para chegar a Brasília. De meia-noite às quatro da manhã, fiscalizava as obras. Dormia nos aviões. E regressava ao Rio. Às 8 horas da manhã, já estava de volta à sua mesa de trabalho no Catete, despachando o expediente, cobrando tarefas e praxos. Esta rotina durou mais três anos. Foram 354 viagens ao Planalto Central, até que a cidade estivesse pronta para a mudança da capital. Foi um governo sem ódios. O homem comum brasileiro, de repente, descobriu que pertencia a um grande povo, capaz de grandes realizações.

Ainda durante a construção da cidade, Adolpho Bloch fez questão de inaugurar o primeiro escritório jornalístico da nova capital. Quando o lago artificial encheu, Bloch mandou para o Murilo Melo Filho, diretor local de Manchete, uma lancha com o bilhete: "Não faça economia. Por falta de relações públicas, os judeus perderam Jesus Cristo. E um homem desses não se perde.".

O Presidente pediu a Bloch que não faltasse à inauguração de Brasília. Foi a festa mais bonita assistida assistida por Bloch. Ao seu lado, o teatrólogo Joracy Camargo vibrava. Também a seu lado, o ator Silveira Sampaio criticava pequenos detalhes das cerimônias. Bloch sentia o seu coração inundado de alegria. Fio naquela festa que, pela primeira vez, vestiu casaca. O Presidente, quando o viu no Alvorada, veio em sua direção, dizendo: "Bloch, você não podia faltar a esta festa!". Trazendo o material da reportagem para a redação, o editor Justino Martins examinou com seu olho de Moscou todas as fotos e o observou:"Tchê, você não podia estar usando esse sapato com furinhos no couro, ele não combina com a casaca."

Muita gente perguntava a Bloch se era verdade tudo aquilo que habitualmente ele escreve para JK. Sim, tudo era verdade. E mais verdade ainda era que a sua presença continua em nós, com sua alegria, seu patriotismo, sua garra de trabalho e seu otimismo. Em 1961, Bloch teve endocardite e estava internado na clínica do seu amigo Dr. Raymundo Carneiro. Recebeu diversos telefonemas do Presidente Jânio Quadros, que desejava saber de sua saúde. Um outro amigo de Bloch, o Henrique Pongetti, nunca tinha ido a Brasília e o próprio Bloch quis levá-lo a conhecer a nova capital. Naquele 25 de agosto, às 2 horas da tarde, o Murilo Melo Filho, que era diretor da sucursal de Brasília, levou a mensagem de renúncia do Presidente Jânio Quadros ao plenário do Congresso. E foi assim que o Pongetti não conseguiu conhecer Brasília naquele dia.

Veio Jango. Era também amigo e conhecido de Adolpho Bloch. Moravam no Edifício Chopin, em Copacabana. Quando visitou oficialmente os Estados Unidos e o Chile, fez quastão de incluir Bloch na sua comitiva. Fio assim que Bloch conheceu o Presidente John Kennedy. Um dia, o Jango apareceu na Frei Caneca. Eram duas da tarde, mas ou menos, e Bloch já almoçara, quando recebeu o aviso de que o presidente estava chegando, acompanhado de seu secretário Raul Riff. Jango chegou e disse que viera almoçar com Bloch. Não houve problema algum: naquele dia, Adolpho Bloch havia almoçado duas vezes naquele dia, e com prazer.

O Oscar Niemeyer havia trazido a maquete da futura sede da Manchete no Russel. Bloch a havia apresentado a Jango, este lhe perguntando se estava previnido para construir a obra. Bloch respondeu: "Presidente, no momento estou preocupado em arranjar dinheiro para comprar as estampilhas da escritura de promessa de compra do terreno."

. No dia 13 de março de 1964 houve o famoso comício da Central do Brasil. JK havia pedido a Bloch que transmitisse um recado a Jango. O recado era o seguinte: "Se ele, Jango, era o presidente, por que o comício?".

Veio o Regime Militar de 64. Muitos temeram que Jango resistisse com armas. Mas Bloch dizia sempre: "Conheço bem o presidente. É um gaúcho bom e gosta da vida. Não deixará que se derrame o sangue dos brasileiros.".

Manchete foi a única revista que publicou a foto de João Goulart, em companhia de Eugênio Caillard, no momento em que deixava o Rio. Bloch transmitiu esta notícia a JK, que logo compreendeu tudo: Jango iria para o Uruguai e o movimento militar estava vitorioso.

A vida continuou. E os acontecimentos também. Bloch trabalhava sem parar e colecionava obras de arte, pois desejava ter um Museu de Arte Brasileira no novo prédio da Manchete.


Continua.
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Fonte: Rede Manchete

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