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sábado, maio 12

A Destruição Dos Judeus Da Romênia II



Com o Rei Carol II,  promulgando a nova constituição fascista de 1938, o clima social e político da Romênia mudou drasticamente. Todos aqueles que pudessem atrapalhar ou por em risco o reinado foram eliminados sumariamente. Assim, a Guarda de Ferro entrou na lista negra do monarca que não tardou a tomar medidas radicais.  

Corneliu Codreanu, o homem forte da Guarada de ferro foi preso, e pouco depois, em 30 de novembro, foi "baleado enquanto tentava escapar", na realidade, ele e vários outros membros da Guarda de Ferro, foram  algemados, colocados em um caminhão, em seguida, estrangulados e lançados no leito de uma estrada deserta no interior da Romênia.

No verão de 1940 a Romênia sucumbiu à pressão alemã e cedeu as regiões da Bessarábia, e parte da Bucovina para a União Soviética, o norte da Transilvânia foi dado para a Hungria, e Dobrudj, no sul para a Bulgária.

O anti-semitismo era agora ainda mais desenfreado do que antes da cessação. Casas de judeus foram saqueadas, lojas queimadas, e muitas sinagogas profanadas e arrasadas. Líderes da comunidade de Bucareste foram presos no edifício conselho da comunidade, enquanto os fiéis foram expulsos das sinagogas pela força.

A Guarda de Ferro nunca se recuperou totalmente da perda de Corneliu Codreanu, apesar da legião ter ganhado poder em setembro de 1940, muitos dos seus líderes mais carismáticos tinham abandonado as suas fileiras por diversos motivos. Em 6 de setembro, o rei Carol abdicou, e Ion Antonescu foi nomeado primeiro-ministro, formando o novo gabinete com o apoio de Horia Sima, que se tornara o comandante da Guarda de Ferro.

Antonescu estabeleceu uma ditadura conservadora e abraçou abertamente as potências do Eixo, declarou um Estado nacionalista-legionário na Romênia. Os membros da Guarda de Ferro passaram a intitular-se de "legionários" e "polícia legionária" foi organizada em linhas nazistas com a ajuda da SS. 

Seguiu-se um período de terrorismo anti-semita que durou sem parar por longos cinco meses. A Legião aumentou o nível de intolerância e adotou uma legislação anti-semita extrema e deu prosseguimento a uma campanha de pogroms e assassinatos políticos feroz.

A morte de judeus nas ruas de Iasi decretou o início da violência

Os primeiros massacres em larga escala de judeus romenos ocorreram antes da reocupação do que ficou conhecido como o "províncias perdidas na Bessarábia e Bucovina. Em 26 de junho de 1941 sobre o pretexto de reprimir uma revolta judaica, forças romenas e oficiais de inteligência alemães, apoiados pela Guarda de Ferro, efetuaram a captura de judeus nas ruas e sistematicamente atiravam neles, ferindo-os ou matando-os.

Milhares de pessoas também foram massacradas nas ruas de Iasi, e milhares mais foram acondicionadas em vagões hermeticamente fechados e enviados em uma jornada para o nada... O trem viajou a esmo por vários dias durante o qual 1.400 judeus foram sufocados ou morreram de sede, outros 1.194 corpos foram retirados de um segundo trem que também foi enviado a partir de Iasi.

Flagrante da retirada dos corpos dos trens da morte que partiram de Iasi

O massacre dos judeus tornou-se uma ocorrência diária com dezenas de milhares sendo arrebanhados em guetos em Kishinev, e mais tarde foram deportados para a região entre o Dniester e os rios Bug, onde hoje está o território da Ucrânia, que estava sobre controle da Romênia. Essas deportações alcançaram o número de 118.847 judeus oriundos da Bessarábia, Bucovina, e do distrito Dorohoi. 

Em 16 de outubro de 1941, o exército romeno ocupou Odessa, bombardeando severamente o Quartel General da NKVD - Narodniy Komissariat Vnutrennikh Diel / Comissariado do Povo para Assuntos Internos (que foi o Ministério do Interior da URSS), alguns dias depois da ocupação provocou uma matança desenfreada da população judaica local. Mais de 19.000 judeus foram mortos no porto de Odessa, e alguns outros 30.000 foram deportados para Dalnic onde foram mortos tanto a tiro, com explosivos ou queimados vivos.

* A NKVD era famosa por dispor de detalhados arquivos sobre os cidadãos da republicas soviéticas e também de estrangeiros. Esses dados eram utilizados com o intuito de eliminar os inimigos do regime, independente do local que estivessem.  Leon Trotsky, Boris Savinkov, Yevhen Konovalets e Guy Leland estão entre as vítimas mais conhecidas da NKVD.

Em novembro de 1941 a maioria dos judeus da Bessarábia e Bucovina estavam vivendo amontoados em guetos e campos transitórios no norte e na Transdnístria central – atual Republica da Moldávia. Aldeia após aldeia e cidade após cidade foram sendo esvaziadas de forma padrão: esperavam o anoitecer e depois da meia noite os judeus eram despertados pelas batidas dos tambores nas ruas.

As pessoas saiam de suas casas, não sabendo o que estava acontecendo e eram então informadas de que deveriam estar na estação ferroviária às três horas da manhã o mais tardar, o que significava que eles tinham duas horas para colocar os seus pertences em malas ou pacotes, fechar as suas casas e sair.

Na estação eles entregavam as chaves das suas casas e seus documentos de residência e em troca recebiam um número de identificação pessoal. Em seguida, eles eram colocados em um trem. Eles fizeram parte da viagem de trem até o norte da Transdnístria, o resto da viagem até a fronteira com a Ucrânia era feita à pé, onde atravessavam o Rio Dniester em barcos.

A terrível espera. Amontoados nas margens do Dniester esperando os barcos

Após o 'abate' patrocinado por Antonescu dos judeus de Odessa, as autoridades de ocupação romenas deportaram para campos de extermínio os sobreviventes no distrito Golta. Assim, 54.000 foram para o acampamento Bogdanovka, 18.000 para o acampamento Akhmetchetka, e 8.000 para o acampamento Domanevka. Em Bogdanovka todos os judeus foram mortos a tiros, pela polícia romena em colaboração com a polícia ucraniana e pelo R Sonderkommando, composta de cidadãos alemães. 12.000 judeus ucranianos também foram assassinados nos dois outros campos. Outros 28.000 judeus, principalmente da Ucrânia, foram mortos pelas SS e da polícia alemã, com a ajuda dos alemães locais no sul da Transnístria, para “poupar o trabalho do transporte”.

E o horror não parava. Outro massacre em grande escala em que as autoridades romenas e militares da Transdnístria foram implicadas ocorreu em Golta, onde policiais ucranianos e romenos levaram a cabo execuções com requinte de crueldade. A maioria das vítimas era de judeus ucranianos, mas milhares de judeus bessarábios também foram mortos.

O massacre em Golta começou na manhã de 21 de dezembro de 1941. A população a ser dizimada foi dividida em lotes. O primeiro lote a ser massacrados consistia em doentes e os deficientes físicos ou mentais.  Eles foram arrebanhados em estábulos, os policiais romenos providenciaram espessas camas de feno e espalharam nos telhados, em seguida, despejavam gasolina. Aguardavam as ordens para acender o fogo, e ao fazê-lo em alguns minutos os estábulos e as quatro a cinco mil vidas dentro, viraram fumaça.

Aqueles que não foram queimados vivos, foram fuzilados em Golta, 1941 

Apesar do pogrom em Iasi, as deportações da Bessarábia e Bucovina, os massacres repetidos nessas províncias, e o genocídio Transdnístria, um grande segmento da população judaica da Romênia ainda estava vivo em 1942. A população judaica da Moldávia, Valáquia e Transilvânia ainda estava, bem ou mal presente. Isso não passa despercebido pela Alemanha nazista, que continuou a pressionar Romênia e seus outros aliados para "resolver a questão judaica". 

Em 17 de agosto de 1942, o Marechal Antonescu tinha dado consentimento para as deportações finais e tinha decidido que iria começar o transporte pelos distritos de Arad, Timisoara e Turda. Funcionários romenos foram convidados para uma conferência especial em Berlim para discutir os detalhes com o Ministério dos Negócios Estrangeiros e da RSHA, eles não conseguiram participar, mas as ordens gerais foram emitidas.

Departamento de Tráfego 24 de setembro [1942]

4754/RDL Quanto à sua carta 896/212 Col.  SIC, esta é para informá-lo que o Marechal Ion Antonescu ordenou que "a evacuação dos judeus do país deve ser preparado nos mínimos detalhes pelo Ministério do Interior sobre a as orientações [sempre] pelo Sr. Mihai Antonescu. Por favor, solicitar ao Ministério do Interior para a solução dos problemas mencionados na sua carta.


Enquanto isso de volta a Berlim, a conferência foi realizada no Ministério dos Transportes em 26 e 28 de setembro de 1942 e foi dirigido por Klemm do Ministério dos Transportes, Stier da GEDOB (Direção Geral de Ostbahn) e membros da IV RSHA B 4 diretamente por Eichmann ou Rolf Gunther, seu vice.

Esta conferência foi convocada para discutir a expulsão de 600.000 judeus do Governo Geral (áreas sob ocupação nazista) e 200.000 judeus romenos em território administrado pelos colaboracionistas. Um cronograma foi elaborado mostrando as deportações para os campos de extermínio de Belzec, Sobibor e Treblinka. Apesar das autoridades do sistema ferroviário romenos não estarem presentes os nazistas prosseguiram com o planejamento das deportações.

A deportação planejada dos judeus romenos para o campo da morte de Belzec através da linha férrea Ploesti-Cernauti, cruzando o posto fronteiriço de Sniatyn, em seguida, passando por Lemberg (Lvov) para o campo de extermínio de Belzec nunca se materializou.

O plano foi frustrado por uma combinação de disputas dentro do governo romeno, um protesto apresentado pelo Governo dos Estados Unidos ao governo romeno em setembro de 1942 e os esforços dos líderes judeus na Romênia.

A burocracia ineficiente do governo romeno, cheia de intervenções internas e externas, bem como a virada desfavorável da guerra foram fatores que, inevitavelmente, contribuíram para o cancelamento dos planos para assassinar os judeus da Moldávia e Valáquia. O exército soviético invadiu a Transnístria, na primavera de 1944 e a Bessarábia foi conquistada nas primeiras semanas da ofensiva de verão.

Quando as tropas soviéticas se concentraram no rio Prut, que separa a Moldávia da Bessarábia, preparando-se para uma invasão total da Romenia, um grupo de políticos da oposição, apoiado pelo rei Michael, derrubou Antonescu e assinou um armistício com a União Soviética em 23 de agosto de 1944.

Entre 1941 e 1944, as autoridades alemãs e romenas assassinaram ou causaram  a morte de cerca de 250.000 judeus romenos e ucranianos apenas no território da Transnístria.

Pelo menos 270.000 judeus romenos foram mortos ou morreram de maus tratos, dentro do território da Romênia. Mas é importante mencionar que os judeus não foram as únicas minorias alvo da fúria e intolerância dos romenos. 

Os ciganos também foram afetados pelo Holocausto, com 26 mil deportados, em torno de sete mil massacrados, e outros três mil foram mortos de fome.

Antonescu e vários outros funcionários do regime de guerra romenos foram julgados em 1945, quatro dos acusados foram executados na Romênia: Ion Antonescu, Mihai Antonescu, CZ Vasiliu, e Gheorghe Alexianu.

A execução de Ion Antonescu

Várias dezenas de importantes funcionários públicos e oficiais de alta patente tiveram a pena de morte comutada. No entanto, a maioria dos autores das atrocidades romenas nunca foi levada à justiça.


Jamais esquecer... Para que não se repita

Todos os créditos e Direitos são de Dvidiu Lapescu & Carmelo Lisciotto, que publicaram originalmente esse trabalho.

HEART - Holocaust Education & Archive Research Team, de onde pude traduzir esse artigo

Nota:
Gostaria imensamente de agradecer ao meu amigo Mihály Fehér, de Budapest-Hungria, por me fazer conhecer essa e outras histórias da população judaica na Europa Oriental, nesses anos negros e tristes. Também sou muito grato ao meu primo Dan Schain, pela colaboração e companhia nas madrugadas (desrespeitando o seu fuso horário) conferindo links,  trocando informações e passando-me fotos.

Em Tempo:
Quebrei e poderei voltar a quebrar algumas regras do Moshav. A principal, sobre a exposição de imagens dos duros anos da Shoah, que apresentassem os corpos daqueles do meu povo. Ocorreu, durante essa tradução, que por muitos momentos algo maior tomou conta da minha pessoa. Não poderei jamais entender os motivos de tamanha atrocidade e em um momento em que alguns ainda se deixam enganar, ainda se permitem a duvidar... seja talvez uma imagem, motivo suficientemente forte para colocar a mão na consciência e procurar buscar a verdade. 

Fontes:

The Final Solution by G. Reitlinger – Vallentine Mitchell &Co Ltd 1953.
The Sword and the Archangel: Fascist Ideology in Romania. Ioanid, Radu Translated by Peter Heinegg. Columbia University Press, 1990.
The History of the Romanians: Embassy of Romania, Calafeteanu, Ion Oslo, Norway 1997.
Belzec, Sobibor Treblinka by Yitzhak Arad published by Indiana University Press 1987 
Minutes of the Meeting – Eichmann Trial – Wiener Library
The Holocaust – by Sir Martin Gilbert, published by Collins, London 1986.
The years of extermination. Saul Friedlander . First Harper Perennial 2008
The Jewish Museum of Deportation and Resistance
The Romanian Jewish Community Online
USHMM

1 comentários:

Anônimo disse...

Lamentavel isso. E ainda tem gente que diz que não aconteceu.