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quinta-feira, outubro 11

O Turul e a Tricolor – A Volta do Ódio.


Desde os meus primeiros anos aprendi a amar a Hungria como o país dos meus pais, por conseqüência um país meu. A outra metade de minhas origens. E com o passar dos anos, mergulhei em sua história e cultura. Ensaiei as primeiras e duras palavras daquele idioma quase extraterrestre, fartei-me de suas delícias em tardes na mesa da minha avó, ouvia ao cair da noite as fantásticas histórias do herói Árpad e das grandes conquistas daquele povo único no centro de uma Europa eslavo-germânica. No dia em que nas suas terras pisei pela primeira vez, não me senti estranho, sentia-me em casa. Estavam lá, cada praça, cada ponte, cada lembrança de meus avós... estavam também o Danúbio e a Grande Sinagoga. 

Finalmente pensei na firme possibilidade de ali viver. 

As coisas, porém mudam a cada dia. Nem sempre claro, naquilo que julgamos correto... assim, muda também a Hungria. 

Os episódios recentemente ocorridos em uma partida das seleções da Hungria e de Israel, um jogo amistoso, expuseram o pior lado da mudança daquele meu país. Os fãs húngaros viraram as costas para o campo, durante o canto de "Hatikva", o hino nacional israelense, vaiaram a cada lance dos jogadores israelenses, algo que de certa forma seria normal, se não fosse um detalhe: as vaias e apupos eram acompanhadas de gritos de "judeus fedorentos", "Buchenwald" e "Heil Benito Mussolini". A partida terminou como placar apontando 1x1. Porém, nesse jogo a Hungria perdeu de 10 x 0. Hooligans são Hoolingans, se pode pensar. Mas nesse caso particularmente não é só isso. O aumento do antissemitismo na Hungria hoje é visível e tem um particular apoio: O Partido Jobbik. Organização ultra-nacionalista que nega a cumplicidade húngara em crimes do Holocausto, manifesta simpatia por teorias nenhum pouco ortodoxas e apóia o Irã. Em poucos anos de atuação o Jobbik já se tornou a terceira força no país e não poupa munição naquilo que chamam de “Guerra de Expansão”. 

 Em sua história, como nação e povo, a Hungria cometeu erros e protagonizou ruidosos episódios. Alguns justificados pela característica de ser uma etnia muito particular na região. Os húngaros são uralo-fineses e seus parentes próximos não são os tchecos ou croatas (eslavos), romenos (latinos) ou austríacos (germânicos). Seus parentes seriam os finlandeses, alocados na fria Europa escandinava. Após a dissolução do Império Austro-Húngaro, a Hungria mergulhou em um estado de tolerância, ou no mínimo um estado de aceitação. Se nunca foi o paraíso para os diferentes (lugar algum assim o é), também nunca foi o inferno daqueles que não fossem uralo-fineses. Num contexto geral, o episódio da partida amistosa é um sinal de alerta e o Jobbik é um retrato de uma Europa escura e sinistra que nasce dessa crise. 

 Triste.

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